Sem Pés Nem Cabeça

"Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir. Sentir tudo de todas as maneiras. Sentir tudo excessivamente. Porque todas as coisas são em verdade, excessivas e toda a realidade é um excesso, uma violência, uma alucinação extraordinariamente nítida que vivemos todos em comum com a fúria das almas, o centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.

Sou uma grande máquina movida por grandes correias de que só vejo a parte que pega nos meus tambores, o resto vai para além dos astros, passa para além dos sóis, e nunca parece chegar ao tambor donde parte...

Meu corpo é um centro dum volante estupendo infinito em marcha sempre vertiginosa em torno de si, cruzando-se em todas as direcções com outros volantes, que se entrepenetram e misturam, porque isto não é no espaço mas não sei onde espacial de uma outra maneira-Deus.



Sou um formidável dinamismo obrigado ao equilíbrio de estar dentro do meu corpo, de não transbordar de minh'alma. Ruge, estoira, vence, quebra, estrondeia, sacode, freme, treme, espuma, venta, viola, explode, perde-te, transcende-te, circunda-te, vive-te, rompe e foge.


Sê com todo o meu ser todos os lumes e luzes, risca com toda a minha alma todos os relâmpagos e fogos, sobrevive-me em minha vida em todas as direcções!" Álvaro de Campos




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