Os rótulos. Ultimamente deparo-me com uma série de pessoas, amigos, clientes que me perguntam se são neuróticos, se correm riscos de serem bipolares, esquizofrénicos, se um coração partido se consegue colar outra vez ou se as feridas da alma têm remendo. Dou por mim quase sempre a responder “não sei”, “talvez” ou “o que é que sente em relação a esse assunto?”. No fundo, parece-me que queríamos todos ter um botão que reiniciasse a “máquina”, uma borracha que apagasse memórias ou, principalmente, queríamos ser e parecer normais aos olhos dos outros. Mas o que é a normalidade? Não sei. Sei que somos todos diferentes e que reagimos todos de forma diferente aos mesmos acontecimentos devido à forma como estruturámos o nosso comportamento, a nossa psique, o nosso carácter e a tantos outros factores que nos fazem ser como somos.
O que vejo e sinto são uma série de corpos fechados nas suas dores, nos nossos corpos “neuróticos”, na “bipolaridade” com que vivemos os relacionamentos íntimos e na “esquizofrenia” daquilo que nos é desconhecido, do mistério que é viver e saber viver dentro destes corpos. Parece-me que rotular não é o caminho, mas, sim, continuar a caminhar e pedir ajuda para que consigamos entrar novamente nas “zonas mortas” do corpo e recuperar memórias desta, doutras vidas, memórias ancestrais ou memórias de ontem.
Quem experimenta Dynamic Theatre pela primeira vez é levado a acreditar que há uma certa magia no que é revelado, que há estranheza e que assusta. O Dynamic Theatre expõe a verdade e a verdade é sempre bela e, por vezes, assustadora. A verdade torna-nos livres e parece-me ser evidente que é na liberdade que existe o belo. Um ser livre é um ser com uma beleza tão exuberante como tranquila. A liberdade permite-nos estar num corpo que vive no presente. O que acontece, no fundo, em Dynamic Theatre , é que damos expressão às nossas “zonas mortas”, que, por conseguinte, são reanimadas e reintegradas em nós.
Em suma, os rótulos são temporários pela impermanência de todas as coisas e o que há de neurótico em nós é a ponte para a nossa recuperação, para o nosso reequilíbrio. Um corpo fechado é um corpo que sofre um sofrimento legítimo. Quantos segredos guardamos no útero, quantas amarguras digerimos no estômago e quantos passos as nossas pernas deixaram de dar pelo medo do desconhecido?
3 comentários:
Gostaria de deixar o meu testemunho sobre esta Mulher extraordinária, inteligente, sensível que se questiona e ajuda tantos no seu caminho.
Gosto da forma como escreve e como se expõe, com ou sem medos, mas que os enfrenta e tenta ter respostas às suas questões... sobre o corpo físico, o corpo espiritual, o coprpo energético.
Lindo texto. Muito obrigada.
Desejo muita felicidade, iluminação, coragem e tenacidade.
Com amor,
Inês.
:)
Gracias Inês pela força. Quando escrevi "Um ser livre é um ser com uma beleza tão exuberante como tranquila" lembrei-me muito de ti!
Gracias Sérgio pelo teu sorriso interior!
beijos Mariana
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